

Los Angeles registra 5º dia de protestos e Trump escala retórica
Pequenos protestos contra a política anti-imigração do governo americano aconteciam nesta terça-feira (10), pelo quinto dia consecutivo, no centro de Los Angeles, enquanto o presidente Donald Trump escalava a sua retórica e enfrentava a resistência das autoridades locais.
As manifestações se concentraram em frente ao prédio federal que se tornou o epicentro dos protestos contra as operações migratórias em Los Angeles, e em uma das principais autopistas do centro da cidade. À tarde, a polícia começou a dispersar os manifestantes, com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
Os protestos, que começaram na última sexta-feira, foram pacíficos em sua maioria, mas houve alguns distúrbios, que resultaram em lojas e veículos vandalizados.
Mais de 100 prisões foram realizadas por forças de ordem locais nas últimas 24 horas, a grande maioria por desobediência a ordens de dispersão, segundo a polícia de Los Angeles.
Apesar dos focos de protesto, a rotina da cidade foi mantida, com turistas circulando e eventos acontecendo sem alterações.
- 'Como um tirano' -
Trump, no entanto, defendeu o envio de mais militares, o que, segundo o Pentágono, custará aos contribuintes US$ 134 milhões (R$ 745 milhões). Em evento militar na Carolina do Norte, o presidente escalou sua retórica contra as manifestações na Califórnia, que descreveu como um ataque estrangeiro.
"O que vocês estão presenciando na Califórnia é um ataque total à paz, ordem pública e soberania nacional realizado por agitadores que carregam bandeiras estrangeiras, com o objetivo de continuar uma invasão estrangeira ao nosso país", afirmou Trump às tropas, em Fort Bragg.
"Essa anarquia não vai continuar. Não vamos permitir que uma cidade americana seja invadida e conquistada por um inimigo estrangeiro."
A secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, acusou hoje a presidente do México, Claudia Sheinbaum, de incitar os protestos, o que esta última negou.
No total, 4.000 efetivos da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais foram enviados a Los Angeles. Efetivos da Guarda protegem os prédios federais em torno dos quais houve protestos, enquanto o comboio de fuzileiros estacionou na base de Seal Beach, no Condado de Orange, a cerca de 50 km de Los Angeles.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, adversário político de Trump, pediu com urgência a um tribunal que limitasse a ação das tropas na cidade. "Enviar combatentes de guerra às ruas não tem precedentes e ameaça os fundamentos da nossa democracia", frisou.
"Donald Trump se comporta como um tirano, e não como um presidente. Pedimos à corte que bloqueie de imediato essas ações ilegais", disse Newsom, que, juntamente com a prefeita Karen Bass, insiste em que a medida de Trump é desnecessária e extrapola as funções do presidente.
Mais tarde, a prefeita decidiu impor um toque de recolher noturno no centro de Los Angeles "para deter o vandalismo e parar os saques".
Os protestos na segunda maior cidade do país inspiraram movimentos em outras localidades americanas, como Nova York, onde milhares de pessoas foram às ruas nesta terça.
- 'Incomum' -
O uso de militares por Trump é uma medida "incrivelmente incomum" para um presidente dos Estados Unidos, disse à AFP Rachel VanLandingham, professora da Faculdade de Direito de Southwestern em Los Angeles e ex-tenente-coronel da Força Aérea americana.
A Guarda Nacional, uma força armada de reserva, costuma ser controlada por governadores estaduais e geralmente é usada em solo americano em resposta a desastres naturais. Seus reservistas não são mobilizados por um presidente contra a vontade de um governador estadual desde 1965, no auge do movimento pelos direitos civis.
A legislação americana proíbe amplamente o uso do Exército como força policial, exceto em caso de insurreição.
Y.Brandt--FFMTZ